Quente, vazia e estranha ao
quadrado. Já achava esta rodoviária diferente, e hoje ela estava para me
surpreender. A quietude me agitava mais do que entediava e o riso da menina de
vestido listrado era o único som humano no interior escuro onde ficava a
bilheteria.
A mulher, responsável pela
vendas, se dividia entre os poucos passageiros que a procuravam, a televisão que
emitia, silenciosamente, um ruído que se identificava como a Rede Globo e um
notebook na qual Adele era reproduzida. “Essa senhora tem bom gosto”, pensei.
E aí a crônica foi abandonada.
Encontrei esse início de texto nas notas do meu celular. Fui escrever algo e
não tinha espaço suficiente. Então fui passando, nota por nota, quando a li. Foi
escrita em fevereiro desse ano, na rodoviária de Agudo, cidade onde fazia as
aulas da auto-escola. Com certeza, tinha esquecido algum livro em casa. Quando
isso acontece, meu celular sempre me salva. Não posso ler? Então, vou escrever.
Já cansei de rascunhar ideias nas notas do aparelho. Ou nas últimas folhas do
meu bloco de entrevistas rabiscadas e até mesmo no verso da lista do
supermercado.
Não vou terminar essa crônica.
Gosto de ter uma inspiração e terminar logo. Não sei onde ela iria parar. Que
propósito tinha ou se ia abordar algum assunto polêmico. O ônibus deve ter
chegado enquanto eu escrevia e as letras do meu texto foram abandonadas. Uma
pena. Mas vou deixá-la assim. Que cada pessoa que ler esse texto, crie o
próprio final para a crônica. Usem seus corações. Libertem a criatividade. Usem
e abusem! Pensem, relatem, observem, sonhem, vivam! Eu tenho essa mania, não
adianta! Quando estou sozinha, costumo conversar com a minha imaginação.
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