O senhor de boina preta caminhava lentamente pelo chão liso da
rodoviária. Tão lento como passos de valsa. Enquanto dançava, olhava para os
lados como se procurasse algo ou alguém. Sua expressão era séria até que a viu.
Ela caminhava em sua direção, também dançando. Mas seus passos eram de
discoteca, curtos e rápidos. Ela deveria ser uns dez anos mais nova que o
senhor que a observava. De repente, quando seus olhos se cruzaram, um arrumar
de casaco que combinava com os sapatos caramelos se deu e ele sorriu.
Eu poderia chutar, por alguns segundos, que aqueles dois eram casados.
Quando, como em um piscar de olhos, ela passou reto pelo senhor e foi em
direção ao embarque. Ele abaixou a cabeça como se falasse: “É claro que não era
ela”. Gostaria de poder ter entendido realmente a situação. Ele parecia feliz
em um momento e tão triste em outro.
Foi assim que parei pra pensar: quantas pessoas sofrem com a ausência de
outras? Depois de ver seus olhos pelo vidro da lancheria na qual estava sentada
a observar a cena, pude entender. Ele tinha olhos de saudade. Alguém muito
especial, provavelmente o amor de sua vida, tinha o deixado. Por vontade
própria ou pela natureza, não sei. A única certeza que tive, era que ele jamais
desistiria de tentar enxergar nas outras pessoas, traços e jeitos de quem um
dia amou.
“Ando por aí querendo te
encontrar
Em cada esquina paro em cada olhar
Deixo a tristeza e trago a esperança em seu lugar”
Em cada esquina paro em cada olhar
Deixo a tristeza e trago a esperança em seu lugar”
Palavras ao vento - Marisa Monte
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