quinta-feira, 26 de julho de 2012

Notas perdidas, rascunhos esquecidos


Quente, vazia e estranha ao quadrado. Já achava esta rodoviária diferente, e hoje ela estava para me surpreender. A quietude me agitava mais do que entediava e o riso da menina de vestido listrado era o único som humano no interior escuro onde ficava a bilheteria.
A mulher, responsável pela vendas, se dividia entre os poucos passageiros que a procuravam, a televisão que emitia, silenciosamente, um ruído que se identificava como a Rede Globo e um notebook na qual Adele era reproduzida. “Essa senhora tem bom gosto”, pensei.

E aí a crônica foi abandonada. Encontrei esse início de texto nas notas do meu celular. Fui escrever algo e não tinha espaço suficiente. Então fui passando, nota por nota, quando a li. Foi escrita em fevereiro desse ano, na rodoviária de Agudo, cidade onde fazia as aulas da auto-escola. Com certeza, tinha esquecido algum livro em casa. Quando isso acontece, meu celular sempre me salva. Não posso ler? Então, vou escrever. Já cansei de rascunhar ideias nas notas do aparelho. Ou nas últimas folhas do meu bloco de entrevistas rabiscadas e até mesmo no verso da lista do supermercado.
Não vou terminar essa crônica. Gosto de ter uma inspiração e terminar logo. Não sei onde ela iria parar. Que propósito tinha ou se ia abordar algum assunto polêmico. O ônibus deve ter chegado enquanto eu escrevia e as letras do meu texto foram abandonadas. Uma pena. Mas vou deixá-la assim. Que cada pessoa que ler esse texto, crie o próprio final para a crônica. Usem seus corações. Libertem a criatividade. Usem e abusem! Pensem, relatem, observem, sonhem, vivam! Eu tenho essa mania, não adianta! Quando estou sozinha, costumo conversar com a minha imaginação. 

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Porque todos moram no paraíso


Ser de uma cidade que tem o nome de Paraíso rende muitas piadinhas. E não digo isso pelo pequeno número de habitantes, mesmo que isso seja outro grande fator para gozações. Mas falo pelas inúmeras vezes que escutei: “então você mora no paraíso?”, “é o paraíso mesmo?”, “Eva e Adão moram lá?” e “paraíso realmente existe, como é lá?”. Não falo sobre isso por não gostar. Na verdade, não me importo. Mas semana passada, algo diferente aconteceu.
            Fui comprar minha passagem. Já sei o jeito que cada “moça dos bilhetes” atende. Escolhi a mais simpática. A loira dos cabelos esvoaçante. 30 e poucos anos. Olhos claros. “Pra onde moça?” Respondi: Paraíso! Foi então que ela entrou pra lista das pessoas brincalhonas em relação a isso. “Então você mora no paraíso?”.
            Observei seu jeito entusiasmado. Acredito que ela tenha se sentido esperta por falar sobre isso.  Sorri e confirmei. Fui sentar em um dos bancos da rodoviária. Estava ainda a guardar a passagem na carteira quando comecei a pensar: “O que as pessoas entendem sobre a palavra Paraíso?”
            Céu, jardim do Édem, lugar utópico. Há diversas definições. Até mesmo cidade, olha que ironia! Eu, como alguém que acredita muito em Deus, e prefere ter fé nas histórias que sempre me falaram a ter que buscar razão nessas questões, creio que exista sim o lugar tranquilo e bonito para nos receber depois da morte.
            Mas, por que falarem tanto disso? A vida já é curta para se preocupar com depois dela. Será que vale a pena achar definições? Não é mais simples se despreocupar? Pois é, eu penso assim. As pessoas se preocupam muito em tentar adivinhar e prever as coisas e se esquecem que estão vivas. Talvez, o verdadeiro paraíso, seja apenas viver plenamente. 

quinta-feira, 19 de julho de 2012

“Em cada esquina paro em cada olhar”


O senhor de boina preta caminhava lentamente pelo chão liso da rodoviária. Tão lento como passos de valsa. Enquanto dançava, olhava para os lados como se procurasse algo ou alguém. Sua expressão era séria até que a viu. Ela caminhava em sua direção, também dançando. Mas seus passos eram de discoteca, curtos e rápidos. Ela deveria ser uns dez anos mais nova que o senhor que a observava. De repente, quando seus olhos se cruzaram, um arrumar de casaco que combinava com os sapatos caramelos se deu e ele sorriu.
Eu poderia chutar, por alguns segundos, que aqueles dois eram casados. Quando, como em um piscar de olhos, ela passou reto pelo senhor e foi em direção ao embarque. Ele abaixou a cabeça como se falasse: “É claro que não era ela”. Gostaria de poder ter entendido realmente a situação. Ele parecia feliz em um momento e tão triste em outro.
Foi assim que parei pra pensar: quantas pessoas sofrem com a ausência de outras? Depois de ver seus olhos pelo vidro da lancheria na qual estava sentada a observar a cena, pude entender. Ele tinha olhos de saudade. Alguém muito especial, provavelmente o amor de sua vida, tinha o deixado. Por vontade própria ou pela natureza, não sei. A única certeza que tive, era que ele jamais desistiria de tentar enxergar nas outras pessoas, traços e jeitos de quem um dia amou.

Ando por aí querendo te encontrar 
Em cada esquina paro em cada olhar 
Deixo a tristeza e trago a esperança em seu lugar
Palavras ao vento - Marisa Monte

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Do que mais gosto nas férias


Gosto do cheirinho de tranquilidade. Sim, tranquilidade tem cheiro. Sabe aquele momento que você deita em uma rede, olha pro céu e ao observar uma nuvem pensa que não precisa se preocupar com nada? Férias são mágicas, como diria minha amiga Andressa, por isso. É bom levantar meio dia. Ler por prazer e não obrigação. Assistir três filmes por dia. Vegetar em cima da cama. Comer mil coisas sem pressa. Navegar na internet sem ter abas cotidianas abertas. Cochilar no meio da tarde. Todas essas coisas legais e não tão úteis. O incrível das férias é que podemos simplesmente respirar. Nada de aspirar preocupações e assoprar prazos. Férias é quando vamos dormir sem hora pra acordar e, principalmente, sem ter o que se estressar. Nas férias me sinto livre, mas no resto do ano me sinto útil. Querendo ou não, as duas coisas são importantes. Deve ser por isso minha paixão pela vida. Meu amor por cada hora das 24 que o dia possui.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Doce como o chocolate

Era pra ser uma segunda-feira normal. Daquelas irritantes costumeiras. Mas não, algo me deixava extremamente feliz. Nem mesmo os sintomas mensais que toda mulher tem, era capaz de me desanimar. Uma manhã gostosa onde quase chorei de rir na aula, com meus amados comunicadores. Uma tarde com uma das pessoas mais importantens pra mim, com direito a confissões, novidades e um morango com chocolate. Ai, chocolate... Já fazem dias que penso muito em chocolate. Talvez seja o clima, talvez a fase, mas talvez também seja, a doçura da minha situação atual, refletida em meu paladar. Me sinto doce, me sinto diferente, mas nunca estive tão feliz como agora.