12h26min. Como em raras vezes, o ônibus chegava mais cedo. Quatro minutos
antes do previsto e nove antes do normal. Peguei minha mala cor-de-rosa e
entreguei pro cobrador que já nem me pergunta mais para onde vou. Afinal, já
faz um ano e meio. Mala guardada, agora era só encarar uma pequena e lerda fila
até a porta do ônibus. Desatenta em relação às coisas que me rodeavam,
provavelmente pensando no final de semana, de repente minha atenção fixou-se na
senhora de cabelo armado e sorriso largo que descia rápido demais do ônibus
para ter a idade que eu acreditava que tinha. Os fios de seu cabelo loiro
esbranquiçado contrastavam com sua roupa escura.
Vi
seus olhos brilharem ao encontrar algo na minha direção. Antes mesmo de eu
conseguir virar para tentar descobrir mais um pouco a respeito daquela
felicidade gostosa, uma pequena senhora de cabelos negros passou por mim. Seus
passos curtos eram recompensados por uma rapidez tão adolescente que me
confundia. Tenho certeza que se ela tivesse algo em mãos, teria atirado para
qualquer lado ao encontrar a dona dos cabelos brancos e sorriso largo. As duas
se abraçaram de um modo que eu, mesmo sem saber ao certo a ligação que possuem,
sorrisse feito uma boba. Um abraço tão amigável, um sentimento de irmandade que
poderia ser sentido até mesmo pelo coração mais frio e inconstante.
Enquanto a loira alta abraçava a
morena baixa, fiquei as observando e quase como num filme, consegui imaginar as
duas, cinquenta anos mais novas, se abraçando ao passarem no vestibular ou
comemorando o aniversário de 15 anos. Sei lá, mesmo sem saber, eu sentia que
aquelas duas idosas de almas tão jovens, viveram muito tempo juntas quando
adolescentes. Podia perceber que aquele carinho perceptível era fruto de anos
de convivência. As duas se conheciam de verdade. No sentido de saber tudo à
respeito mesmo. Com certeza, cada uma delas sabe o primeiro amor que a outra
teve. O primeiro beijo que levou e as lutas que passou naquela fase divertida e
confusa que chamamos de adolescência.
Aquela irmandade percebida, me fez
pensar nas minhas amigas e no quanto as quero perto de mim no meu futuro. Quero
ter ao meu lado, quando estiver judiada pelos anos, pessoas que saibam o que
passei e me entendam como ninguém. É uma sensação rara perceber afetos que
sobrevivem há uma vida toda. E perceber
isso, me dá ainda mais vontade de cuidar daqueles que tenho ao meu lado e
guardo em meu coração.
As duas ainda se abraçavam,
balançando-se para os lados, quando escutei uma voz agradável pedir: “Sua passagem,
moça”. Tirei os olhos da cena das amigas saudosas, e virei na direção de onde o
som vinha. Enxerguei a pupila do senhor que me pedia o bilhete, segurado
firmemente pelas minhas mãos. O entreguei, ele fez o que tinha que fazer, e
disse: “Paraíso então... Vai com Deus, minha menina”. Eu agradeci e pedi em
oração para que não apenas eu fosse com Deus, mas também ele, as senhoras que
tiveram um passado feliz e todos aqueles que cuidam das relações do presente
pensando nas mesmas no futuro.