Escrito em maio de 2012.
Era um dia qualquer. Caminhava
lentamente ao escutar barulhos intensos provocados pela brincadeira dos
quero-queros. Enquanto avançava, percebi o rosto frágil de uma mulher de corpo
estreito, de aparência quase quebrável. Ela se escondia, entre lágrimas, nos
cabelos ruivos da amiga. Por algum motivo desconhecido, a moça tão pequena
estava com expressão gigante de tristeza. Passei ao lado das duas e tentei
entender a situação.
Depois de sentar em um banco
vermelho, peguei um livro de páginas amarelas devido aos anos de uso e
continuei a observar, discretamente, o drama das amigas. Quando enxerguei os
olhos tristes da que confortava, comecei a entender a intensidade das amizades.
O sofrimento de alguém pode ser uma dor para si mesmo, desde que a pessoa se
importe com a outra. E elas se importavam! Qualquer um seria capaz de enxergar
preocupação naquele abraço.
Seria um choro por uma morte de um
amigo, parente ou conhecido? Uma briga de casal? Ou quem sabe uma despedida?
Sei lá, quem entende lágrimas desconhecidas? Mas eu queria entender e mais: eu
gostaria de poder ajudar.
Foi então que enxerguei - como em
uma imagem de cinema, quando o fundo desfocado, ganha vida - um casal
aparentemente feliz, trocando beijos e carinhos. Era isso! O “cara” que ela
amava, estava com outra. “Que idiota”, pensei. Mas tudo bem, mistério
descoberto. Ponto para mim!
Já concentrada nas páginas do meu
livro, certa sobre o motivo do desespero da menina, levanto a cabeça e percebo
alguém na minha frente, concentrado em observar a mesma cena que me prendeu
atenção minutos atrás. Meu olhar volta para as garotas abraçadas. Elas
continuavam do mesmo modo. Uma se derretia em lágrimas e a outra com olhar fixo
e sem brilho. Quando uma voz surgiu: “Ela sente saudades da infância”.
Depois de refletir por um segundo, continuei a escutar: “Existem pessoas
que sentem saudades das estações, outras de algumas pessoas ou de um lugar, mas
ela sonha em ser criança novamente”. O dono da voz terminou sua fala e foi até
a frágil menina, lhe deu um beijo na boca e ajudou as duas a se levantarem
antes de partirem juntos em direção ao carro preto, estacionado logo ali.
Fechei o livro e me dediquei a ouvir meu coração. Cada batida parecia um
breve período para compreender a cena e as palavras que havia escutado. Aquela
menina podia ter tido uma atitude estranha em relação ao comum, mas estava
completamente certa. Meu Deus! O tempo voa. As coisas acontecem tão intensamente.
Que saudade de tudo! As horas passam sem que a gente perceba que cada minuto é
uma divisão entre o que somos agora e o que acabamos de deixar para trás. Nunca
esqueça o que você foi um dia e nem se perca no caminho que te leva ao futuro.